sábado, 16 de junho de 2012

BERENICE - Conto de Edgar Allan Poe




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5º Simposio de Ensino de Graduação
ANÁLISE LITERÁRIA DO CONTO “BERENICE” DE EDGAR ALLAN POE
Autor(es)
ÉRICKA BAUCHWITZ FURLAN
Orientador(es)
Josiane Maria de Souza
1. Introdução
A proposta deste trabalho partiu inicialmente de uma tarefa requisitada para a disciplina de “Teoria Literária
I”. Após estudar o modelo analítico estrutural do ensaio de Roland Barthes, inserido no texto de Carlos Reis
“Técnicas de Análise Textual” foi possível efetuar uma prática da análise literária dentro do conto “Berenice”,
cuja autoria é remetida a Edgar Allan Poe. A importância desta atividade explana-se pelo fato de fornecer ao
leitor uma nova visão sobre o texto que lê. É possível desempenhar mais do que uma leitura analítica,
privilegiando um aspecto crítico da obra. É estimulado no leitor observar fatores que vão além daqueles
apresentados explicitamente na obra, sendo possível estabelecer relações com conhecimentos prévios,
consentindo assim um aprofundamento intrínseco do texto e sua reflexão geral. Neste caso, a análise se deu
ante um estudo filosófico da Teoria das Idéias de Platão. Para tal, tomou-se como base uma leitura ampla de
conceitos filosóficos “O mundo de Sofia, de Jostein Gaardner” e uma mais estrita “Para uma nova
interpretação de Platão, de Giovanni Reale”.  Além de parte da obra de Carlos Reis e do texto traduzido de
Poe por Breno Silveira, também foram utilizados, como base de estudo, Dicionários de Símbolos; Dicionários
de Nomes Próprios e Dicionários da Língua Portuguesa.
2. Objetivos
A análise literária do conto “Berenice” aqui efetuada teve como objetivo principal efetuar uma leitura mais
aprofundada e minuciosa da obra, estabelecendo uma relação direta com as idéias do filósofo Platão. Com
base no ensaio de Barthes, foi realizada uma análise estrutural, dividindo o texto em partes, mas sem
esquecer seu aspecto geral. Para Barthes, o texto literário é como uma grande frase atuando como um
sistema fechado, mas que se dividindo pode cada parte atuar com e em relação à outra. Exatamente esta foi
a aplicação cumprida, podendo atingir o objetivo primordial de investigar a fundo a obra, desvelando uma
nova interpretação além daquela expressa nas linhas do autor, no caso o vínculo com a Teoria das Idéias.
3. Desenvolvimento
1/4Depois de estudar o ensaio de Barthes e visualizar o funcionamento de uma análise estrutural, dentro da
obra de Carlos Reis, sobre o conto “A Paga, de Miguel Torga” a proposta foi exercitada de mesmo modo. De
modo a concretizar tal feito, foram realizadas diversas leituras da obra de Poe. Após ressaltar uma questão a
fim de trabalhar a interpretação do texto, foi feito um estudo de diversos vocábulos inseridos no conto, tanto
em dicionários focados na simbologia quanto aqueles da língua portuguesa, a fim de obter informações mais
exclusivas. É válido lembrar que o conto foi trabalhado em sua versão traduzida para a língua portuguesa e,
como tal, nesta língua foi analisado. Relações simbólicas foram estabelecidas com a Teoria de Platão,
permitindo a sustentação e comprovação da hipótese levantada para a questão. O texto também apresentou
sua divisão em Seqüências, revelando um total de seis mudanças tonais em seu andamento. As funções
distribucionais e integrativas também foram decompostas. As distribucionais subdividiram-se em trinta
Funções Cardinais (ações) e oito Catálises (pausas). Já as integrativas possibilitaram nove informantes de
tempo ou espaço e totalizaram trinta e três Indícios que sustentaram a ligação da obra com a questão de
Platão.
4. Resultados
A resposta destas ações proporcionou uma nova interpretação da obra de Poe. A divisão estrutural não
modifica a interpretação aqui trabalhada, tanto que se comparada diferentes análises pode-se obter
semelhantes resultados. Já a interpretação pode variar de acordo a questão trabalhada. Para uma melhor
compreensão é de grande valia repassar o enredo de “Berenice”. É possível faze-lo através das funções
cardinais, que são ações responsáveis por alterações no desenvolvimento do enredo: “Egeu e Berenice
crescem juntos, mas diferentes, ele pobre de saúde ela ágil. A seguir Berenice fica doente. Egeu diz da
agilidade de sua própria doença, a monomania, dominando-o. A seguir é registrado o encontro de Egeu com
Berenice. A ação que se segue é de Egeu olhando-a, com anseio. Mas desvia o olhar para atingir em
seguida a visão de seus dentes. Berenice sai do aposento, mas mesmo assim Egeu continua a
contemplar-lhe os dentes, dando continuidade na próxima ação quando a monomania se apresenta
novamente. Sua fixação apenas cessa com um grito que ouve. Depois uma criada lhe diz que Berenice já
não existia. A ação seguinte retira Egeu de sua biblioteca, levando-o até o quarto da defunta. Alguém fala
com ele, perguntando se tinha interesse em ver o corpo. Sua resposta é observada na próxima ação,
quando ele ultrapassa as cortinas que envolvem o corpo e separa-se do mundo externo. Egeu sente o
incômodo que o corpo morto lhe apresenta e quer fugir. De repente, ele crê ter visto um dedo se mexer. Na
próxima ação, ele olha o cadáver que tem um lenço amarrado em seu queixo. Este lenço desata, e pode-se
ver que a boca de Berenice é aberta, já que seus dentes se mostram a Egeu. Egeu sai a correr. Ele
apresenta-se novamente na biblioteca e Berenice, enterrada. A seguir, Egeu está confuso e não sabe as
ações que precederam aquele momento. Ele olha ao redor e vê uma caixa familiar – do médico da família,
assim como vê um livro aberto, com uma frase destacada “Dicebant mihi sodales, si sepulchrum amicae
visitarem, curas meas aliquantulum fore levatas”. Ao lê-la sente-se incomodado. Um criado entra e começa a
falar-lhe com uma voz trêmula, rouca e baixa, contando que os empregados ouviram um grito e buscaram
pelo som. Havia o túmulo sido violado, e mais do que isso o corpo encontrava-se desfigurando e ainda vivo.
O criado mostra sinais de sangue e unha no corpo de Egeu. Na ação seguinte, mostra uma pá. Egeu grita e
busca alcançar o interior da caixa. Não consegue abri-la. A caixa se rompe ao cair no chão, espalhando
instrumentos cirúrgicos, assim como as trinta e duas peças brancas de marfim (os dentes de Berenice). A
leitura do conto incitou uma questão diante do comportamento do personagem Egeu. Por que motivo, o
personagem tem sobre sua mesa o livro aberto com a seguinte frase em destaque “Dicebant mihi sodales, si
sepulchrum amicae visitarem, curas meas aliquantulum fore levatas” (Diziam-me os amigos que, se eu
visitasse o túmulo da amiga, minhas preocupações seriam suavizadas)? Buscando compreender o texto
num nível simbólico-semântico é possível levantar a hipótese de que Egeu tomou conhecimento da
existência do Mundo das Idéias e queria atingi-lo, acreditando ser isso possível através de Berenice, que aos
seus olhos, estava conseguindo atingi-lo. Inicialmente foi retomado conceitos associados à Teoria de Platão.
O filósofo retrata a existência do Mundo dos Sentidos e o Mundo das Idéias. O Mundo Sensível formado de
incertezas apresenta elementos desintegráveis. Platão afirma que este é uma imagem do Mundo das Idéias,
o qual contém o elemento na sua forma mais pura, mais perfeita e integrada. Ou seja, os elementos básicos
2/4que se desintegram surgem de uma fonte eterna e imutável. As Idéias são imutáveis e proporcionam o
conhecimento seguro com uma Razão axiomática e igual para todos. O ser é ser em seu sentido pleno e
vive numa dimensão diferente do Mundo Sensível.O agente instigador desta associação provém da possível
admissão do personagem Egeu quanto à existência do Mundo das Idéias. Apesar de afirmar “Mas é
simplesmente ocioso dizer que não vivi antes... que a alma não tem nenhuma existência anterior.”, Egeu,
logo em seguida, declara a possibilidade de uma lembrança prévia “uma lembrança como uma sombra,
vaga, variável, indefinida, incerta”, fornecendo assim a primeira conjetura da existência do Mundo das Idéias.
Levando-se em conta que este se apresenta no Mundo dos Sentidos, há um esquecimento do Mundo das
Idéias, e o próprio Mundo Sensível não permite uma clareza tal qual como no mundo puro. Na ultima
sentença do parágrafo “como uma sombra também, me vejo na impossibilidade de desfazer-me dela
enquanto existir a luz de minha razão.”, Egeu se dá conta da existência de sua Alma no Plano Perfeito, mas
sendo apenas uma sombra no Mundo Sensível, ou seja, estando presente no Mundo dos Sentidos e
fazendo uso dele não é capaz de libertar-se parar atingir o outro Mundo. No primeiro parágrafo,
pós-epígrafe, catalítico e de caráter filosófico cita-se: “O infortúnio é múltiplo. A infelicidade, sobre a terra,
multiforme.” Pode-se observar que as frases se complementam ao compreendê-las pela Teoria de Platão: “o
infortúnio é múltiplo”. O Mundo dos Sentidos goza da multiplicidade e é infortuna sua imprecisão e
imperfeição diante do Mundo Puro. “A infelicidade, sobre a terra, multiforme.” Evidencia que a multiplicidade
está sobre o Mundo dos Sentidos, e que por isso a infelicidade (devido à imperfeição) tem muitas formas. A
comparação feita com o arco-íris leva-o a questionar: “Como é que pude obter da beleza um tipo de
fealdade? Como pude conseguir, do pacto de paz, um símile de tristeza? Mas, como na ética, o mal é uma
conseqüência do bem e, assim, na realidade, da alegria nasce a tristeza.”; tendo como resposta a
compreensão de que do Mundo Perfeito das Idéias nasce o Mundo Impreciso dos Sentidos. A relação de
termos opostos como bem e mal se unificam no Mundo das Idéias, mas são múltiplos e mutáveis nos
Sentidos (modificam a cada época e cultura, e por isso tornam-se múltiplos e conseqüência um do outro). Ao
atentar a perfeição dos dentes de Berenice, crê ser possível atingir o Mundo das Idéias através dela (“não
saíra do aposento desordenado de meu cérebro”). Ele era capaz de visualizar o perfeito em seu cérebro,
mesmo sem a presença do sensitivo. Este juízo sucede em “presentes em minha visão mental, e sua única
individualidade se transformou na essência de minha vida espiritual”. Esta relação torna-se explícita quanto
à significação dos dentes de sua prima para si: “Na parte final da obra, Egeu busca a caixa que pode ser
identificada como representação do inconsciente. Ao derrubá-la, “peças brancas, semelhantes ao marfim,
que se esparramaram, aqui e acolá, pelo assoalho.” caem os dentes de Berenice. O branco representa a
passagem, anterior a todo nascimento; a todo começo. O marfim simboliza a pureza, sendo ele inquebrável
e incorruptível. A partir das ações do texto é possível assumir a idéia de que Egeu visitou Berenice no
túmulo, a fim de retirar seus dentes, podendo tomar posse da pureza que ele representava, tranqüilizando
suas inquietações ao alcançar com êxito o Mundo das Idéias. É por isso que se encontrava grifada esta
frase no livro aberto sobre sua mesa em sua biblioteca. No ambiente da reserva do saber estava a resposta
em destaque para sua agitação. O título Berenice pode também ser interpretado. Berenice origina-se do
grego “Phereníke” ou “Bereníke” e significa portadora da vitória. Egeu foi vitorioso. Ele teve êxito ao
conseguir conquistar sua tarefa: atingir o mundo das Idéias. A epígrafe que se segue, a mesma frase
destacada do livro, revela já no início da obra que a personagem conseguiria triunfar ao visitar o túmulo da
amiga.
5. Considerações Finais
Estas são apenas algumas relações trabalhadas na análise em sua íntegra. Muitos termos tiveram seu perfil
simbólico extirpado para além de uma compreensão basilar. Assim sendo, este estudo possibilita alcançar
uma percepção longínqua do referente comum. Esta faculdade analítica é fator inicial e essencial para
desenvolver um senso crítico. Relacionar diversos conhecimentos permite o estudante ir além, atingindo um
entendimento amplo de questões gerais (unidade), não se limitando a aprendizados fracionados
(multiplicidade). Este efeito deve ser de primordial importância quando se reflete sobre a questão da
Educação, devendo ser sustentada não apenas na Universidade, como também anteriormente e
ultrapassando-a em sua posteridade.
3/4Referências Bibliográficas
BECKER, Udo. Dicionário de Símbolos. São Paulo: Paulus, 1999.
CHEVALIER, Jean. Dicionário de Símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras. 5.ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1991.
COSTA, Camille Vieira da. Dicionário de Nomes Próprios. 3. ed. São Paulo: Traco, 1988.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico: século XXI. Versão 3.0. Editora
Nova Fronteira, nov. 1999.
GAARDNER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p. 97-106.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2001.
LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
OBATA, Regina. O livro dos nomes. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
POE, Edgar Allan. Berenice. In: ____. Histórias Extraordinárias. Tradução Breno Silveira e outros. Ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 53-65
REALE, Giovanni. Para uma nova interpretação de Platão. São Paulo: Loyola, 1997. p. 117-139.
REIS, Carlos. Técnicas de Análise Textual. Coimbra: Almedina, 1996. p. 226-251.
4/4




h5º Simposio de Ensino de Graduação
ANÁLISE ESTRUTURAL DO CONTO BERENICE - EDGAR ALLAN POE
Autor(es)
DANIELA RODRIGUES FELICIANO
Orientador(es)
Josiane Maria de Souza
1. Introdução
 Este trabalho tem como objetivo analisar o conto “Berenice” de Edgar Allan Poe, segundo as abordagens de
Roland Barthes apontando os elementos estruturais da narrativa. O personagem protagonista que é
dominado por uma monomania, possui um incontrolável desejo pelos dentes de Berenice.
2. Objetivos
 Análise Estrutural Os elementos estruturais foram agrupados em 5 seqüências (S): S1 –
Lembranças/recordações da infância, da juventude e da maturidade de Egeu; S2 – Comparação da conduta
de vida dos personagens Egeu (narrador protagonista) e Berenice; descrição de suas respectivas doenças:
monomania e epilepsia; S3 – Contemplação dos dentes de Berenice; S4 – Suposta morte e enterro de
Berenice; S5 – Constatação do “ataque cirúrgico” ao corpo de Berenice executado por Egeu.
3. Desenvolvimento
 Seqüência 1: “A desgraça é variada. (...) mas, na realidade, a minha absoluta e única existência.”. A 1ª
seqüência é caracterizada pelas lembranças do narrador. Apenas no meio do 1º parágrafo que
descobriremos que o narrador é personagem do conto através da utilização do “eu”. Nos parágrafos
seguintes percebemos que, além do narrador ser personagem, ele é o protagonista da história, pois começa
revelando seu nome – Egeu – e conta sua vida, lembranças de sua infância, juventude e maturidade. O
narrador nos revela ainda que desde muito jovem optou pelos livros ao invés das brincadeiras e
despreocupações de crianças, o que fez com que a biblioteca se tornasse o principal lugar de seu “refúgio”.
E ainda que na sua maturidade as realidades do mundo eram consideradas, por ele, visões e que apenas
suas idéias e devaneios eram sua real existência. Seqüência 2: “Berenice e eu éramos primos (...) e eu a
contemplara... não como um objeto para amar, mas como o tema da mais abstrusa, embora inconstante,
especulação.” A 2ª seqüência é iniciada pela revelação de um nome e do parentesco de uma moça:
Berenice, prima do narrador protagonista. Esta seqüência é marcada pela descrição e comparação da
1/4conduta de vida de ambos. O narrador nos revela que tanto ele, quanto ela era portadores de doença: ele,
que sempre viveu de má saúde, assumiu um caráter de monomaníaco e que piorava a cada dia em
conseqüência da primeira e fatal  doença de Berenice – “epilepsia que terminava em catalepsia, da qual
acordava repentinamente”. E a seqüência se desenvolve na explicação e descrição da monomania do
narrador justificando a maneira pela qual ele amava Berenice e nos leva a levantar a hipótese de que
Berenice tornara-se seu objeto de atenção. Nesta seqüência há um dos mais importantes informantes: a
duração da monomania do narrador - “Através do crepúsculo matutino, entre as sombras estriadas da
floresta, ao meio-dia, e no silêncio de minha biblioteca, à noite, esvoaçara ela diante de meus olhos e eu a
contemplara...”. Seqüência 3: “E agora... agora eu estremecia na sua presença (...) entre as luzes mutáveis
e as sombras do aposento.” A seqüência 3 inicia-se como que na volta para a realidade, sanidade. E é nesta
seqüência que as funções cardinais vão aparecer com mais freqüência. É também que o narrador vê os
dentes de Berenice e numa contemplação ininterrupta muda de objeto de atenção: da Berenice para seus
dentes. Mas por que os dentes? Talvez porque, naquela época de sua doença, nada mais era belo em sua
fisionomia, nada mais tinha sinais de alegria e beleza, nenhum sinal de agilidade, graça e exuberância “
nenhum vestígio da criatura de outrora se vislumbrava numa linha sequer de suas formas”... As únicas
coisas ainda perfeitas em Berenice eram os dentes. Seqüência 4: “Afinal explodiu em meio de meus sonhos
um grito (...) corri para fora daquele quarto de mistério, de horror e de morte...” A 4ª seqüência inicia-se com
a palavra “afinal”, nos dá uma idéia de que o personagem estava esperando alguma coisa acontecer para
despertá-lo do encanto dos dentes de Berenice e, em meio ao sonho, um grito faz com que haja uma total
mudança de assunto e de foco narrativo – antes, sentado lembrando dos dentes. Agora, em pé, diante da
notícia da morte de Berenice. Nesta seqüência encontramos indícios para justificar a hipótese que Berenice
ainda estava viva e que, provavelmente, encontrava-se numa das crises de catalepsia, na qual parecia estar
morta: “Ter-se-ia meu cérebro transviado? Ou o dedo da defunta se mexera no sudário que a envolvia? (...)
Haviam-lhe amarrado o queixo com um lenço, o qual, não sei como, se desatara. Os lábios lívidos se
torciam numa espécie de sorriso...”. O narrador desejava que Berenice estivesse morta, pois só assim
poderia possuir os seus dentes: “o cheiro característico do ataúde me fazia mal e imaginava que um odor
deletério se exalava já do cadáver”. Seqüência 5: “Achei-me de novo sentado na biblioteca (...) que se
espalharam por todo o assoalho.” Na 5ª seqüência encontram-se o clímax e o desfecho do conto. A
biblioteca por influência do narrador será o último espaço dos acontecimentos. Eis a prova de que a epígrafe
se justifica no decorrer da história: ela está contida numa das “páginas abertas de um livro, sobre uma
sentença sublinhada” e é um indício de que o narrador foi ao túmulo de Berenice – talvez, influenciado pela
própria frase sublinhada e aberta em sua mesa.
4. Resultados
   Nível Distribucional Funções Cardinais e Catálises: As funções cardinais (F) presentes no conto Berenice,
percebemos que ora o narrador as utiliza para recordar os fatos, ora para narrá-los. As catálises (C) têm a
função de descrever os personagens, sua vida - seja ela marcada pela saúde ou pela doença - elas também
têm a função de expressar os pensamentos e expor as lembranças do narrador.   Nível Integrativo
Informantes e Indícios: No nível integrativo é necessário destacar os principais indícios (I) e informantes (If),
que são a própria dinâmica de cada seqüência. Como em outros contos de Poe, a epígrafe é o primeiro
elemento que desperta a curiosidade e o interesse do leitor. Ao lermos o conto percebemos que a epígrafe –
se justificará e, com isso, podemos afirmar que ao iniciar o texto com um indício, Poe acentua ainda mais a
característica de “fantástica” à narrativa.
5. Considerações Finais
 Seqüência 5: F19 – “Achei-me de novo sentado na biblioteca, e de novo ali estava só. Parecia-me que,
havia pouco, despertara de um sonho confuso e agitado”. F20 – “Tentava decifrá-la, mas em vão; e de vez
em quando, como o espírito de um som evadido, parecia-me retinir nos ouvidos o grito agudo e lancinante
de uma voz de mulher. Eu fizera alguma coisa; que era, porém? Interrogava-me em voz alta e os ecos do
aposento me respondiam: Que era?”. F21 – “... por que estremecia eu ao contemplá-la?”. F22 – “Por que,
2/4então, ao lê-las, os cabelos de minha cabeça se eriçaram até a ponta, e o sangue de meu corpo se congelou
nas veias?” F23 – “Uma leve pancada soou na porta da biblioteca. E, pálido como o habitante de um
sepulcro, um criado entrou, na ponta dos pés”. F24 – “Ouvi frases truncadas. Falou-me de um grito
selvagem, que perturbara o silêncio da noite...” F25 – “... sua voz se tornou penetrantemente distinta, ao
falar-me de um túmulo violado... de um corpo desfigurado, desamortalhado, mas que ainda respirava, ainda
palpitava, ainda vivia!”. F26 – “Apontou para minhas roupas”. F27 – “Eu nada falava e ele pegou-me
levemente na mão”. F28 – “Chamou-me a atenção para certo objeto encostado à parede”. F29 – “Com um
grito, saltei para a mesa e agarrei a caixa que nela se achava. Mas não pude arrombá-la”.   As funções
acima fazem parte do desfecho do conto. Mas será somente a partir da (F23) que chegaremos ao clímax e
num final cheio de intriga; fazendo com que o leitor, induzido pelos indícios, tire sua própria conclusão. ****
C22 – “Sabia que era então meia-noite e bem ciente estava de que, desde o pôr-do-sol, Berenice tinha sido
enterrada. (...) Sua recordação, porém, estava repleta de horror, (...) medonhas e ininteligíveis recordações”.
C23 – “Sobre a mesa, a meu lado, ardia uma lâmpada e, perto dela, estava uma caixinha. (...) Eram as
palavras singulares, porém simples, do poeta Ebn Zaiat: Dicebant mihi sodales, si sepulchrum amicae
visitarem, curas meas aliquantulum fore levatas”. C24 – “Sua fisionomia estava transtornada de pavor e ele
me falou numa voz trêmula, rouca e muito baixa. Que disse?”. C25 – “... no meu tremor, ela deslizou de
minhas mãos e caiu com força, quebrando-se em pedaços. E dela, com um som tintinante, rolaram vários
instrumentos de cirurgia dentária, de mistura com trinta e duas coisas brancas, pequenas, como que de
marfim, que se espalharam por todo o assoalho”. As últimas catálises exercem papel fundamental para a
narrativa ser coesa e coerente. Serão através da descrição e explicação de alguns fatos é que vamos
‘colher’ indícios e informantes para justificar algumas ações e, principalmente ‘dar uma solução’ para a
monomania do narrador em relação a posse dos dentes. **** I15 – “Parecia-me que, havia pouco, despertara
de um sonho confuso e agitado”. I16 – “Mas, do que ocorrera durante esse tétrico intervalo, eu não tinha
qualquer percepção positiva, ou pelo menos definida (...) terror mais terrível porque ambíguo”. I17 – “... e de
vez em quando, como o espírito de um som evadido, parecia-me retinir nos ouvidos o grito agudo e
lancinante de uma voz de mulher. Eu fizera alguma coisa; que era, porém?”. I18 – “Sobre a mesa, a meu
lado, ardia uma lâmpada e, perto dela, estava uma caixinha”. I19 – “... e meus olhos, por fim, caíram sobre
as páginas abertas de um livro (...) e o sangue de meu corpo se congelou nas veias?”. I20 – “…um grito
selvagem, que perturbara o silêncio da noite...”. I21 – “…um túmulo violado...”. I22 – “... um corpo
desfigurado, desamortalhado, mas que ainda respirava, ainda palpitava, ainda vivia!”. I23 – “…minhas
roupas; estavam sujas de barro e de coágulos de sangue”. I24 – “…nas mãos; havia, gravadas nela, sinais
de unhas humanas”. I25 – “... era uma pá”. I26 – “... com um som tintinante, rolaram vários instrumentos de
cirurgia dentária, de mistura com trinta e duas coisas brancas, pequenas, como que de marfim...”. **** If27 –
“Sabia que era então meia-noite e bem ciente estava de que, desde o pôr-do-sol, Berenice tinha sido
enterrada”. If28 – “…e eu freqüentemente a vira antes, pois pertencia ao médico da família...”. If29 – “…saltei
para a mesa e agarrei a caixa que sobre ela jazia. Mas não pude arrombá-la; e, no meu tremor, ela deslizou
de minhas mãos e caiu com força, quebrando-se em pedaços”. Todos os indícios desta seqüência
levam-nos a concluir que Egeu – influenciado pela frase do poeta Ebn Zaiat – foi até o túmulo de Berenice e
violou-o. E, ao desenterrar o caixão da defunta, depara-se com ela viva: os gritos e as marcas de unhas em
suas mãos revelam que Berenice ainda encontrou forças, apesar da doença, para tentar impedi-lo. E, talvez
para disfarçar, colocou os dentes dela na caixinha que pertencia ao médico da família. Porém, o conto nos
deixa a dúvida se Berenice morreu ou não depois que Egeu arrancou-lhe os dentes. Se analisarmos (I23)
perceberemos que os criados chegaram ao túmulo depois de Egeu ter arrancado os dentes de Berenice e,
asseguraram-no de que “ainda respirava, ainda palpitava, ainda vivia!” o que nos leva a concluir que
Berenice ainda estava viva.
Referências Bibliográficas
POE, Edgar Allan. Berenice - Conto.
BARTHES, Roland. Narrativa - Elementos Estruturais.
3/44/4ttp://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/5mostra/4/204.pdf

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